sexta-feira, 18 de maio de 2012

Outro Poema



MUROS

Onde inventar um caminho legítimo
para o êxodo, uma porta entreaberta
respirando o ar que vem da terra? 

Os muros da cidade sustentam-se
destas incertezas, destas cortinas
de fogo, este balbuciar de cansaços
inexactos, intranquilos como o fumo
esparso, dispersando vozes alheias.

Não nos inclina a dureza das pedras,
a sua fiel sabedoria de intransigências.

Mas tarde é inútil, para fingir exílios.
Hoje já é ontem, para o fim indiciado. 

Vieira Calado. Em Terrachã, ed. AJEA.









Imagens: Kelly Sychoski e Rafael Kalinoski.


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